Projeto:
O livro digital acessível e bilíngue direcionado ao público surdo: um framework para o processo de design
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A relação do usuário surdo com a tipografia em movimento nos materiais educacionais em Libras: um estudo por meio do rastreamento ocular
As tecnologias de informação proporcionaram avanços na comunicação para usuários com necessidades especiais, tais como os surdos, que utilizam a língua de sinais (LIBRAS) para trocar informações. Atualmente, é obrigatória a oferta de ensino bilíngue (Libras – Português) aos alunos surdos. Em materiais educacionais digitais para deficientes auditivos é comum identificar o conteúdo sendo apresentado por diferentes elementos de mídia, como vídeos, imagens e texto em movimento de maneira simultânea. Desta forma, o presente artigo verificou os principais focos de atenção do usuário surdo tendo em vista a tipografia em movimento em materiais didáticos bilíngues. Para tanto, realizou um estudo por meio do rastreamento ocular com o auxílio do equipamento eye trackingna interação de um usuário surdo com conteúdos educacionais desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Educação para Surdos (INES) juntamente com uma entrevista. Como resultado percebeu-se a dificuldade na compreensão das informações simultâneas, a preferência pelo conteúdo apresentado em Libras, bem como a possibilidade de melhorias nos materiais didáticos destinados ao público surdo.
Idioma: | Português |
Data: | 2010 à 2022 |
Direitos autorais: | Creative Commons |
Palavras-chave: | Mídias digitais; tipografia em movimento; design centrado no usuário; usuário surdo; rastreamento ocular |
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Resumo:
A partir da popularização das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs ) e a imersão da sociedade nos meios tecnológicos surgidos com as mídias digitais, os indivíduos tem vivenciado um novo momento, em que as mudanças sociais, políticas, culturais e educacionais têm sido mediadas pela tecnologia. Nesse contexto, as atividades de projeto no campo do design tem passado por muitas transformações e encontram-se em um novo cenário, mais complexo e permeado pela presença das tecnologias digitais. Na era da informação, o design que antes era centrado no processo produtivo industrial, tornou-se insuficiente para tratar de questões emergentes da contemporaneidade, como a customização, individualização dos artefatos, a acessibilidade dos usuários e a ênfase sobre a experiência de uso e consumo de serviços (CARDOSO, 2008; SENS, 2017).
Diante disso, Cardoso (2013) oferece um discurso para entender a presença do designer em quadros complexos, defendendo a ideia do design como “instâncias de interface” que se estabelecem entre esses componentes que permitam o funcionamento e a fluidez do todo. Portanto, o design acompanhado das tecnologias digitais, oferece algumas possibilidades de interface com outras áreas, como a educação. Para Portugal (2013), o desafio para o designer está em descobrir, no espaço do processo de ensino-aprendizagem, as possibilidades de interação que acontecem na relação entre professores, alunos, informações e conhecimentos. Nesta área, muitas demandas são observadas e relatadas como complexas, dentre estas a da acessibilidade. O contexto da acessibilidade tem demonstrado a necessidade de novas abordagens e processos de design no contexto do ensino e aprendizagem, onde as tecnologias digitais e novos recursos educacionais visam melhor atender sujeitos em suas particularidades.
A acessibilidade é um desafio para os sujeitos surdos gerando enfrentamentos diários para a realização de atividades cotidianas devido ao desconhecimento da sociedade acerca da Língua de Sinais Brasileira e, ainda, pela falta de acessibilidade nos meios de comunicação: televisão, sites, cursos online, etc. Isso se confirma, pois foi somente em 2002, por meio da sanção da Lei n° 10.436, que a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) foi reconhecida como meio legal de comunicação e expressão no País. A legislação também determina que deve ser garantido, por parte do poder público e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão de Libras como meio de comunicação objetiva.
O sujeito surdo é aquele que: “por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS” (Decreto Federal nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005).Este documento estabelece que deve ser ofertada obrigatoriamente aos alunos surdos, desde a educação infantil, uma educação bilíngue, na qual a LIBRAS é a primeira língua e a Língua Portuguesa, é a segunda língua na modalidade escrita. Posto isso, os atuais desafios da comunidade surda são do âmbito da utilização da Língua de Sinais também nos sistemas de informação e tecnologias digitais. Conforme pesquisas de Moraes, Gonçalves e Scandolara (2017) as tecnologias para a acessibilidade tem facilitado muito a inserção do surdo na comunidade linguística majoritária e atenuam os problemas de comunicação dado por essas diferenças. No entanto, é preciso ampliar as pesquisas com relação à interação e usabilidade com interfaces adaptadas ou projetadas para o público surdo.
Especificamente, esta pesquisa evidencia o processo de design de recursos educacionais digitais orientados a estudantes surdos, na sua forma bilíngue, utilizando a primeira língua a Libras e a segunda língua, o português. Nesse caso, a produção de recursos educacionais é um desafio em termos de projeto, desde a identificação do escopo do artefato digital em si como das competências das equipes. Assim, dada a complexidade da temática dos recursos educacionais digitais, nesta pesquisa, o foco está direcionado ao livro digital bilíngue.
Para o projeto de um livro digital bilíngue, a forma de apresentação da língua de sinais é uma grande questão, pois as línguas de sinais são caracterizadas pela combinação de movimentos corporais e pela visualidade. Por isso, seu registro depende das tecnologias digitais, os mais utilizados são: o signwriting, a ilustração, a fotografia, vídeo e animações. O Signwriting – SW é um sistema de registro escrito complexo, ainda pouco utilizado no Brasil. A ilustração e a fotografia são recursos estáticos, com limitações para representar os movimentos e diferentes posições e configurações das mãos. O vídeo e as animações, conseguem suplantar esta dificuldade, permitindo uma reprodução mais fidedigna dos movimentos realizados na sinalização (MORAES, 2014).
Frente à complexidade do tema exposto, este projeto tem como principal objetivo “Propor e avaliar um framework para o processo de design do livro digital direcionado ao público surdo, com ênfase na acessibilidade e no bilinguismo (libras /português).
De acordo com Crossan, Lane e White (1999) um bom framework define o território que se está trabalhando e nos deixa mais próximos da teoria. Porém precisa atender a algumas exigências: a) identificação clara do fenômeno de interesse; b) indicação das premissas-chave ou suposições subjacentes ao framework; c) descrição da relação entre os elementos trabalhados. Rogers e Muller (2006) ressaltam que uma das razões para a aplicação de frameworks em situação de projeto é com o intuito de aperfeiçoar o processo de design por meio da melhoria na qualidade da discussão entre designers, pesquisadores e outras partes interessadas.
A partir do objetivo maior direcionado a proposição do framework, este projeto em seus objetivos específicos busca: sistematizar os fundamentos para o design de livros e produtos digitais interativos dirigidos o público surdo, tendo em vista o enfoque do bilinguismo, estruturar o framework a partir de um processo de categorização dos níveis de contribuição teórica, testar, refinar e avaliar o framework no contexto do IFSC SC, campus Bilíngue.
Para tanto, será adotado como abordagem metodológica o Estudo de caso, detalhado em nove grandes etapas ao longo deste documento. Em síntese serão realizadas técnicas de revisões bibliográficas, sistemáticas, de categorização de informações. Também serão desenvolvidos protótipos de livros digitais bilíngues a serem utilizados e avaliados por surdos, estudantes do IFSC Bilíngue. Os resultados permitirão um refinamento do framework que será avaliado em sua versão final por professores do próprio IFSC Bilíngue.
Ao final desta pesquisa espera-se obter um framework fundamentado que possa de fato orientar o processo de Design de livros digitais bilíngues dirigidos ao público surdo. O Framework será acompanhado de um protocolo detalhado onde serão incluídos aspectos conceituais, midiáticos e técnicos que venham a apoiar efetivamente equipes e profissionais de design a desenvolver recursos educacionais digitais bilíngues.
PALAVRAS CHAVE: livro digital interativo, acessibilidade, bilinguismo, libras-português, mídia e tecnologias, framework
Direitos autorais:
Creative Commons